Reflexões a partir de Chico Buarque


Por Joka Faria


O disco Paratodos de Chico Buarque me conquistou desde a primeira audição, em 1993. Na época, era uma novidade. Devo tê-lo comprado nas Lojas Americanas, um símbolo da cultura de mercado brasileira, que atualmente vive uma crise. Queiramos ou não, a cultura de mercado faz parte de nossas vidas. Vivemos numa sociedade de mercado onde, em vez de valorizarmos nossa cidadania, referenciamos nosso poder de consumo. Infelizmente, somos o que compramos.

Este disco é um clássico, assim como A Panela do Diabo de Raul Seixas e Marcelo Nova. Nada supera o conceito de um disco ou de um livro. Estou solitariamente quebrando a cabeça para preparar o conceito do meu segundo livro, terceiro, e assim por diante. Já mereço ter vários livros. Não temos um grupo de escritores que debata essas questões, e as editoras são extremamente comerciais, refiro-me àquelas que pagamos para editar. Há uma bela festa de literatura acontecendo em São Paulo, perto do Pacaembu. Gostaria de ter mais tempo e dinheiro para percorrer essas festas literárias, que promovem a literatura e as artes.

Escrever ouvindo Chico é uma inspiração, não digo dionisíaca, mas contemplativa. Chico é tranquilidade; Caetano, Raul Seixas é tempestade. No teatro, tivemos Zé Celso e Harley Campos nos trazendo suas influências do Teatro Oficina Uzona. As artes transformam a minha vida e a de muitas pessoas. Na educação, isso se chama letramento. Sou um operário da educação, mas quero experimentar outros voos profissionais no terceiro setor. Já vi nascer um departamento de Ação Cultural Descentralizada na Fundação Cultural Cassiano Ricardo, que espalhou Casas de Cultura. Quero experimentar ações assim. Revolução não é uma palavra de dicionário; é uma ação, um estilo de vida. Em dias em que a liberdade é atacada e querem tolher a democracia, precisamos ser ousados e abusados. Ouvir um disco como este é uma inspiração. Quantos talentos ainda precisamos descobrir na literatura e na música? Como dizia Vinicius de Moraes, hoje é sábado, e escrever é refletir. Ouvir Chico Buarque, quando celebra seus 80 anos, é divino. Onde anda Dionísio, que precisa nos inspirar? Amanhã teremos um encontro de amantes das artes. A vida se esvai, mas joguemos nossa semente em terras férteis. A vida é um risco na eternidade.

João Carlos Faria

29 de junho de 2024






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