Um dia seremos pó, mas ainda pulsa a vida.
Joka Faria
Escrever é um desafio diário em muitas vidas. Uma paixão que suplanta as vaidades. Ir além de nossos estilos e técnicas. Um dia seremos pó, mas ainda pulsa a vida; e esta vida pulsante escreve e lê. Tenta desvendar a vida. Mas conseguimos entender de fato a vida?
Estes dias estou pesquisando sobre o mito da caverna de Platão, deliciando-me com a leitura de Mia Couto em seu livro Contos do Nascer da Terra. Como fazer a criatividade nascer em nossas escritas além da zona de conforto? Mergulhar em inúmeros escritores das mais variadas escritas e estilos. É noite e tudo se faz escuro.
Dias desses assisti a um filme sobre um professor que foi dar aulas em uma aldeia isolada no Himalaia, dias e dias de trilhas. Sem acesso a toda esta tecnologia de nossa civilização. Tecnologia dentro de uma caverna. Quem nos garante que estamos a ver sombras? Afinal, quem realmente somos, desmemoriados de nossas existências antes de nascermos e depois de morrermos? Ou uma realidade desconhecida?
Somos frutos da aldeia que nasceu da cultura de nossas famílias: pais, avós, irmãos, e uma grande família. Somos condicionados à cultura e ao jeito de viver do sexo em que nascemos. A sociedade contemporânea nas universidades e mídias reflete tudo isso. E afinal, o que somos? Temos a necessidade de estudar e trabalhar, ganhar dinheiro para vivermos. Somos uma sociedade que cultua o sexo e as viagens. Alguns lutam por democracia e civilização, enquanto outros querem uma barbárie econômica e anárquica. Não há nada no centro que se equilibre: ou barbárie ou civilização.
O trabalho se precariza cada vez mais com a liberdade da uberização, Platão de si mesmo. No Brasil, a velha CLT, os direitos de se aposentar vão se perdendo. Devemos, mesmo nas grandes cidades, recuperar o desejo de vida comunitária. As famílias são cada vez mais reduzidas, e o Estado e as leis beneficiam as elites. Faz-se necessária a criação de espaços comunitários nos bairros. Como descobrir novas formas de cooperação? Novas jornadas de trabalho?
A máquina, a inteligência artificial, não pode tirar o trabalho, o ganha-pão. Nosso suado ganha-pão. Eu, a vida toda, me senti à margem. Sei o que é o desemprego em minha pele. Com esforço, consegui um diploma de professor. Mas quais são as perspectivas para as novas gerações? Sem o fazer político, sem a noção de classe social, não avançaremos diante de uma sociedade onde a máquina aniquila profissões. Somos também máquinas quando dependemos de todo este aparato tecnológico que nos cerca. Conseguiríamos viver em paz em lugares remotos sem acesso à tecnologia?
Eu fiz uma cirurgia de hérnia. Todo o saber de um ser humano, o médico, foi utilizado com a ciência. Afinal, como enfrentar o desafio de gerar trabalho e renda com qualidade para os seres humanos? Temos um desafio civilizatório. Ou chegaremos à barbárie?
João Carlos Faria
Vinte e cinco de julho de 2024.
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